quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dia 16/09 - OS TRÊS TIPOS DE AÇÃO - TELEOLÓGICA, NORMATIVA E EXPRESSIVA (OU DRAMATÚRGICA) E O ADVENTO DA AÇÃO COMUNICATIVA DE HABERMAS



Além dos tipos de ação, também foram apresentadas as melhores resenhas:

Obs: Galera do próximo período muito cuitado ao se "inspirarem", afinal a professora tem uma ótima memória!

O direito à ternura, de Luis Carlos Restrepo. Vozes, Petrópolis: 1994.

Restrepo por ele mesmo...

Psiquiatra, filósofo y escritor colombiano.
Su obra se desenvuelve en torno a una reflexión sobre la libertad humana, abarcando los campos de la psiquiatría, la educación, la política y la filosofía. Su concepción de la libertad, como encuentro fructífero con el azar, es el eje en torno al cual redefine la práctica psiquiátrica, la vida familiar y el ejercicio ciudadano. Desarrolla además conceptos complementarios como el valor central de la ternura, la ecología humana como emergencia de la singularidad sin romper la interdependencia y lo sacro como figura de la conciencia en la sociedad de masas contemporánea.
Ha combinado su labor de pensador con la intervención social frente a problemas como la drogadicción, la violencia y la torpeza afectiva que priman en el mundo contemporáneo. En 1997 lideró el Mandato Ciudadano por la Paz, movimiento civil que movilizó a diez millones de colombianos que depositaron un voto por la paz y la finalización de la violencia. Entre agosto del 2002 y marzo de 2009 se desempeñó como Alto Comisionado para la Paz del gobierno de Colombia.

Autor de los libros: Libertad y locura (1983); La trampa de la razón (1986); El derecho a la ternura (1994); La fruta prohibida (1994); Ecología humana (1996); Semiología de las prácticas de salud (1996); El derecho a la paz: proyecto para un arca en medio de un diluvio de plomo (1997); Ética del amor y pacto entre géneros (1998); Memorias de la tierra (1998); Mas allá del terror: abordaje cultural de la violencia en Colombia (2002); El retorno de lo sacro (2004); Viaje al fondo del mal (2005).
Retirado do site http://luiscarlosrestrepo.com/php/index.php

Resenhas:

Bruno Augusto da Costa

Resenha Crítica do livro “O Direito à Ternura” - Luis Carlos Restrepo

A obra o Direito à Ternura aborda um dos principais aspectos da relação humana: A ternura. O autor inicia o texto justificando a titulação que o discurso recebe. Deixa em panorama a conclusão de que reivindicamos os direitos públicos e deixamos totalmente de lado, os privados. Como se a relação íntima entre duas pessoas não carecesse de critérios básicos para sua efetivação. O autor classifica a ternura, começando por retirar dela as falácias e preconceitos que herdamos da cultura e do senso comum. Esclarece também a dificuldade da academia em tratar do tema. Já neste ínterim notam-se as várias citações que, além de argumentar a obra, proporciona uma contextualização do tema fidedignamente. Convém ressaltar o rico vocabulário do texto, publicado pela Editora Vozes, com a tradução de Lúcia de M. Endlich Orth, a Segunda Edição, a qual é aqui resenhada. Foi publicada em 1998, em Petrópolis – RJ.
Apesar ser considerado um livro pequeno (114 páginas), a obra tem uma grande capacidade de abordagem holística. Em capítulos bem curtos ele “localiza” a ternura dentro de diferentes temáticas. Os títulos capitulares são essencialmente descritivos e fornecem o melhor apanhado geral para a obra. Em exemplo: Chaves teleológicas, Entre o amor e o ódio, Ecoternura...
Observam-se também as várias abordagens que a formação do autor permite - a psicologia. Em seu texto, existem argumentos biológicos, mitológicos, históricos, teleológicos e, sobretudo, filosóficos. Podemos observar vários campos da filosofia trabalhados por seu saber científico associado à psicologia. Como as questões éticas e estéticas da vida humana. O complexo sistema cognitivo de se pensar existência e ternura.
Um capítulo de grande importância fala sobre o “analfabetismo afetivo”. Aliás, ele deixa claro que este martírio afeta todos os seguimentos da sociedade. Não fazendo distinção entre povos de diferentes condições econômicas eu/ou intelectuais. Nesse sentido, a humanidade adquire uma espécie de torpor que não lhe permite identificar a origem das dores e sofrimentos que a assolam. A falta de afetividade. A partir deste capítulo, ele fragmenta a conceituação da ternura em múltiplas formas de atuação.
No capítulo “Herdeiros de Alexandre”, Carlos Restrepo busca a origem histórica para uma “ideologia guerreira” da humanidade. Neste capítulo, a mitologia é utilizada sob vários sentidos. Citam-se traços da mitologia indiana e judaico-cristã que visam explicar o motivo da busca por êxito econômico e social - muitas vezes conquistados na contramão do amor, ao modelo de personagens como Alexandre, o Grande, e o bíblico Abraão.
Depois da fundamentação histórica no capítulo “Loucuras permitidas”, o autor busca teorias da psicologia que melhor explicam a origem da ideologia do guerreiro. Começa por eleger Erik Erikson, e a chamada crise da idade adulta. Onde o sujeito deve escolher viver em intimidade ou em solidão. Para definir o seu pensamento de maneira simples e objetiva, ele estabelece uma rede de argumentos. Estes argumentos ligados entre si, como premissas e conclusão, permite uma espécie de lógica dedutiva. São eleitos autores de várias áreas: Adam Smith, Hegel, William James e Fernando Pessoa. Nesse sentido, ele concatena os conceitos destes autores a exemplos do mundo contemporâneo, como os personagens do Jet set. Em sua conclusão, ele estabelece uma lista de comportamentos que são errados, porém, aceitos culturalmente, os comportamentos automáticos, herdados da cultura.
Uma das condições que estabelecem a ideologia do guerreiro e as várias “normoses” da cultura é adquirida da distinção entre a cognição e a sensibilidade.
O autor apresenta também o diálogo entre a etimologia e linguística na bíblia e sua capacidade de fundamentar a ternura em seu sentido gnosiológico - quanto recurso possível - por meio da educação e a sensibilidade. Frutos da relação humana. Determinando, assim, cognição como um fenômeno de dependência e interdependência que permite o diálogo com a afetividade no campo do epistemológico, atribuindo à linguagem um papel muito especial e vivo.
O capítulo “Sentir a verdade” traz, em vários saltos temporais, a busca do homem pela verdade e os vários temas que este foco abrange. O autor mostra como alguns segmentos cognitivos, como a literatura e a poesia, se aproximaram da sensibilidade, e as ciências dela se afastaram.
No sentido de aliar a cognição à sensibilidade, o autor busca pela união entre o que é sinestésico e o sensível, visto que o pensamento ocidental tradicionalmente separou, em alguns dos seus eixos históricos, a mente e o cérebro. Outra vez, Restrepo utiliza das várias abordagens filosóficas. Argumentando com a ajuda de várias autores, ele conclui com a seguinte ideia esta questão: É necessário inverter nosso aparelho cognitivo do sentido de identificar os sentidos à vivência cultural, criando, assim, uma vida cheia de ternura.
Entrando no campo da prática da ternura, o autor inicia por distinguir o agarro da carícia, estabelecendo o papel importante do toque na ação da ternura. E a carícia como poder efetivo de relação, transmissão de sentimento, consciência do próprio eu e do outro. Nesse sentido, ele amplia o comportamento ético para o toque, a sensibilidade prática. Retornando ao conceito etimológico de Sabedoria, o toque supremo.
Restrepo sabiamente localiza a ternura entre os sentimentos de amor e ódio. Afinal, são dois extremos bem conhecidos da alçada sentimental. Facilmente identificáveis, costumeiramente se misturam, criando, para a ternura, uma condição tipicamente universal, já que é o equilíbrio entre opostos.
O autor não propõe um esvaziamento completo do ódio, mas a sua manipulação, começando por reconhecer as múltiplas formas de violência e seus caracteres relativos e subjetivos que beiram o paradoxal. Afinal, a violência é a melhor manifestação para o ódio efetivado.
É interessante como a obra chega naturalmente ao nível pilar da relação humana e, por consequência, da ternura. A relação entre casais. O autor discute com bastante democracia e imparcialidade ao se tratar do homem e da mulher, sem estigmatizar os gêneros sexuais, ou supervalorizar algum. A sexualidade é aberta em várias perspectivas. O eixo central é seu aspecto temporal, condicionado a cultura. Restrepo ainda é muito feliz em considerar o casal como um “invento em formação”, e por que não dizer a própria humanidade?
O autor conclui sua obra traçando tendências de pensamento ainda atuais que pretendem investigar a ternura e vinculá-la à prática de novos conceitos. Como o novo paradigma da Ecoternura.
O livro mostra a ternura como uma condição potencial da natureza humana. Mas que necessita ser conquistada através da manipulação das várias exigências da temática. No sentido de identificar os sentidos com os sentimentos, ele nivela a ação terna, como um compêndio do próprio corpo. Assim ele torna a existência da linguagem, do símbolo, da cultura, veículos naturais de ternura, frutos do corpo, nada além disso.


Iara Rodrigues de Oliveira

Conhecimento

O autor faz uma análise do mundo em que vivemos e mostra que crescemos acostumados com a violência e esquecemos da ternura. Já no primeiro capítulo, afirma que opinamos constantemente sobre os direitos públicos (direito ao emprego, à habilitação, à educação, entre outros) e esquecemos dos direitos privados. É nesta categoria que se enquadra o direito à ternura. Este direito não deve ser uma lei, pois “as éticas impositivas parecem ter chegado ao fim”.
No segundo capítulo, o autor discute o fato de que homem que fala ou expressa a ternura é efeminado. Demonstra discordar totalmente disso, afirmando que é uma ilusão. A violência e a ternura podem estar presentes tanto em homens quanto em mulheres. Ele aborda também a formação acadêmica como sendo uma forma de obter conhecimento, hábitos, escrúpulos morais e comportamentos rotineiros. Além disso, afirma que falta ternura no discurso científico.
No capítulo três, Restrepo comenta o papel da afetividade na vida cotidiana. Começa com um comparativo entre a inteligência artificial e a nossa. O que diferencia uma da outra é que nós temos capacidade de nos emocionar e de reconstruir o mundo e o conhecimento com laços afetivos. Sabemos o português e a matemática, mas somos analfabetos afetivamente.
No próximo capítulo, mostra que, como nos campos de batalha, nós vivemos uma constante luta contra o discurso sobre a ternura. “O amor e o êxito econômico e social parecem andar na contramão”. Em nome da ambição, destruímos as possibilidades de haver ternura no nosso cotidiano. É um fato que provém do berço. Muitas mães acham que devem ser rígidas e duras com os filhos para não se tornarem “mimados ou frouxos”.
No capítulo cinco, fala sobre a difícil escolha das pessoas entre viver em intimidade ou manter-se na solidão. Esta escolha pode deixar o indivíduo em paranoia. Buscando a fama, o dinheiro, enfim, procurando ser bem-sucedidas, as pessoas esquecem a vida afetiva e tornam-se insensíveis. Relata também sobre as máscaras estereotipadas que não delatam nossas emoções, nem as nossas dúvidas.
Já no sexto capítulo, o autor conta que o ocidente separa a cognição da sensibilidade. Isso nem sempre foi assim. Vários exemplos de povos antigos que valorizavam a cognição afetiva são mostrados. Luis Carlos critica o fato de as escolas desvalorizarem os mecanismos sensoriais, a cognição afetiva em si. “A intromissão do tato, do gosto ou do olfato na dinâmica escolar é vista como ameaçadora, pois a cognição ficou limitada aos sentidos que podem exercer-se mantendo a distância corporal.”
Na sétima etapa, Restrepo relembra que não há dois seres iguais. Cada pessoa é única, singular. Tem seu jeito de pensar, agir e sentir. O conhecimento antes era trazido pelo campo da teologia e da especulação. Logo surgiu o conhecimento científico. Além destes conhecimentos, há também o conhecimento que adquirimos na atmosfera cultural. Este é mais sedimentado e tem como base nossas percepções e afetos.
No capítulo oito, nota-se que para desenvolvermos a abdução temos que superar a visão parcial que confina o processo de conhecimento à utilização dos exteroceptores (olhos e ouvidos), realizando a estimulação proprioceptiva. O nosso cérebro necessita de afetividade para funcionar bem. “Sem matriz afetiva, o cérebro não pode alcançar seus mais altos picos na aventura do conhecimento”.
Agarrar e acariciar é como foi intitulado o nono capítulo. Neste percebemos a importância do tato na vida afetiva e social para a comunicação humana. A mão serve tanto para acariciar como para agarrar. O agarrar é mais violento, pois o fazemos sem o consentimento, às vezes usando de força. Já o acariciar prevê o aceitamento do outro. Com a carícia transmitimos sentimentos e buscamos ao mesmo tempo o que o outro experimenta. Mostra também que o “tocar” pode ser violento ou terno, depende de como é feito.
O décimo capítulo retrata a sabedoria. Esta pode ser definida como um ato supremo de ternura. O tato e o olfato, sentidos fundamentais para a existência da sabedoria, são excluídos e menosprezados por nós. Os seres humanos passam rapidamente da ternura à violência. “Quando exercemos algum tipo de autoridade endurecemos porque temos medo de mostrar nossas emoções.” Nesta etapa, o autor também aborda a ética. Ele afirma que a atitude ética é decidida pela afetação sensível e a disposição corporal que convive entre implícitos e não ditos.
No capítulo onze, fala que o amor é bem mais aceito no Ocidente que a ternura. Define o amor e também o ódio. “O amor é uma dramaturgia que desperta nossa imaginação, fazendo-nos adentrar numa complexa ficção narrativa.” Restrepo afirma ainda que o ódio está mais próximo do amor que a ternura. Quando outra pessoa nos desilude, passamos a odiá-la. Odiamos ao perceber que o discurso amoroso é provisório.
No capítulo doze o autor diferencia a violência explícita da implícita. Na violência explícita, o agressor tem intenção constante e perversa, já na outra, nem sempre é possível reconhecer intenções malévolas por quem exerce. Os noticiários constantemente mostram atos de violência ligados à guerra, sangue e genocídios. Enquanto isso, esquecemos das violências sem sangue, próprias da vivência na intimidade.
O décimo terceiro capítulo retrata a vivência a dois. O autor afirma que hoje a sociedade machista é tida como modelo e que o domínio feminino sobre a casa e os filhos continua existindo. O texto aborda também as dificuldades da vida em casal, da igualdade entre os sexos, no imaginário dos amantes e da amizade entre parceiros.
No capítulo seguinte é tratado o fato de que nossa cultura apresenta um grau alarmante de analfabetismo afetivo. Um dos maiores desafios de hoje é a vida na intimidade. Somos dependentes afetivamente dos outros. A discussão gira em torno da dependência que temos e do medo que temos de depender dos outros. Ele relata ainda que encontramos no dinheiro uma forma de nos proteger contra a dependência a seres singulares.
O capítulo quinze mostra que a ternura, por um lado, se dispõe à carícia e, por outro, nega a violência. Na nossa sociedade crescemos com medo e deixamos a violência acontecer. A política contemporânea tem como tarefa “avançar em direção a climas afetivos onde predomine a carícia social e onde a dependência não esteja condicionada ao fato de o outro ter de renunciar a sua singularidade”. O medo de depender de outros se deve ao fato de nos sentirmos exposto ao mau trato e à manipulação.
O décimo sexto capítulo retrata a ecoternura. O autor define esta como sendo “desburocratizar o conhecimento, convertendo sua produção e conservação numa prática de autogestão”. Sabemos que dependemos da natureza para sobreviver, porém, falta afeto com o meio ambiente. Destruímos espécies, contaminamos o ar, a água e a terra. Recuperar a sensibilidade é o caminho para uma redefinição ecológica. Nossas vontades não podem instituir contra a natureza.
O capítulo que segue aborda a teologia. A vivência religiosa é a constatação de que o homem é dependente de algo ou alguém. Ignoramos o presente e pensamos nas riquezas. Temos gosto pela propriedade privada e isso nos deixa distante da graça.
O décimo oitavo capítulo fala sobre a repetição, a rotina que cerca nossa vida e que apenas o acaso cria espaços para encontrar-nos com o outro. Explica também o funcionamento do cérebro quando desenvolve determinadas atividades. Restrepo critica a rotina e diz que quem a deixa para trás pode ter como recompensa o encontro com a graça.
No penúltimo capítulo temos de um lado Deus e de outro, o demônio, ou seja, o bem e o mal. O demoníaco escapa de previsões, nos impede de ser previsíveis e razoáveis. O demonismo é a rebelião contra a lógica. As experiências demoníacas, segundo o autor, parecem ser mais significativas para o homem do que a moral e a sensorialização do sagrado.
Já no último capítulo, o autor faz a gente refletir sobre o que pode o corpo. Diz que “a ternura, a dependência, a gratuidade e a busca da singularidade são experiências que só podem acontecer na geografia do corpo”. É no nosso corpo que refletimos nossa cultura. Somos prisioneiros de medos imaginários e isso compromete nosso corpo. É a dor que sentimos, o sinal de que algo de errado está acontecendo com nosso corpo.
O assunto foi abordado durante todo livro de forma clara e exemplificada. O conhecimento que exige para entender a obra é o conhecimento que adquirimos no decorrer da vida. A todo o momento o autor dava exemplos do que falava. Assim, fica mais simples de entender. Havia palavras desconhecidas para mim, mas com um auxílio de um dicionário tudo se torna entendível.

Conclusão do autor

O autor fez algumas conclusões sobre o assunto de cada capítulo. As conclusões foram colocadas no final dos capítulos. O primeiro capítulo propõe uma análise da cultura e da interperssoalidade onde a política possa ser pensada a partir da intimidade. Por este mecanismo, devemos valorizar a afetividade tanto quanto o intelecto. No segundo capítulo, o autor afirma que os homens não são a casca de identidade masculina e que podem agregar a ternura ao seu discurso, proferindo as palavras com solidez acompanhada da emotividade. No terceiro, conclui que temos dificuldades de expressar nossos sentimentos, por isso, às vezes, nós sentimos sozinhos e sofremos.
Já no quarto capítulo, constata que estamos acostumados a viver sem a ternura. Quem se prende pela ternura e vive entre muitos conquistadores não se reconhece, acha que é o estranho. No quinto, conclui que há um tipo de loucura que é permitida. Louco, nesta categoria, é aquela pessoa que se acha autônomo, sem reconhecer que a cultura manipula seus desejos e sensibilidades. No sexto capítulo, conclui que a afetividade não pode ser deixada de lado e também que a emoção e a razão devem caminhar juntas.
No sétimo capítulo, ele acha injusto o abismo criado pela nossa cultura entre o conhecimento e a afetividade e propõe que deveríamos abrir caminho para um sentir a verdade da ciência. No oitavo, afirma que, para agregar a ternura na vida cotidiana, é necessária uma inversão sensorial. Esta inversão vai desde a vivência perceptual até a desarticulação de códigos já estabelecidos de semantização do mundo. No nono capítulo, conclui que para sermos ternos devemos aceitar o diferente, aprender, respeitar, sem dominá-lo. A ternura pode estar em qualquer lugar, desde que nos aceitemos como sujeitos fraturados (imperfeitos).
Já no décimo capítulo, diz que todo problema ético remete à estética social (forma de sensibilidade que decide nosso comportamento). Perguntar por esta estética é uma forma de retomar o tema ancestral da sabedoria. No décimo primeiro, conclui que a ternura é um termo médio entre o amor e o ódio. Procuramos ela quando percebemos as possibilidade de erro que cometemos, da proximidade do ódio e também da facilidade que temos para maltratar os outros. No décimo segundo, afirma que deveríamos discutir sobre a violência sem sangue e deixar de tratá-la como um problema privado.
No décimo terceiro, conclui que não conseguimos alcançar uma relação íntima gratificante por causa da correria do dia-a-dia. Já no próximo capítulo, afirma que a vida em casal será fortalecida quando entendermos que somos singulares e dependemos do outro, para descobrir nossa singularidade. No capítulo quinze, conclui que para aceitar a dependência e permitir a singularidade requer sabedoria e tato.
No capítulo seguinte, fala que quando prejudicamos outros estamos destruindo nossa esfera íntima, impedindo de termos uma vida afetiva plena. No décimo sétimo capítulo, afirma que somos movidos por obrigações e, mesmo assim, queremos nos considerar autônomos. Além disso, trocamos a dependência cotidiana, de afeto e interpessoal, por uma dependência monetária. No décimo oitavo, afirma que para alcançarmos a graça devemos deixar o imprevisível acontecer naturalmente e deixar a rotina um pouco de lado.
No penúltimo capítulo, conclui que o demoníaco nos dá como alternativa burlar as normas cotidianas. Já no último capítulo, conclui que entre os gestos e as palavras pode emergir a gratuidade. Vivemos diante da tentação da violência e da ternura. E para alcançar a ternura devemos começar pelo nosso corpo.

Quadro de Referências do Autor

Seu trabalho gira em torno de uma reflexão sobre a liberdade humana, que abrange os campos da psiquiatria, educação, política e filosofia. Sua concepção de liberdade como encontro frutífero com o acaso é o eixo em torno do que redefine a prática da psiquiatria, a vida familiar e o exercício da cidadania. Também desenvolve conceitos complementares como o valor central de ternura, ecologia humana e emergência da singularidade, sem quebrar a interdependência entre sagrado e como uma figura de consciência na sociedade de massas contemporânea. No livro “O direito à ternura”, o autor utilizou vários estudiosos para embasar sua teoria. Alguns conhecidos por mim, outros, não.

Apreciação


O autor se sente inconformado pelo falto da ternura estar excluída das salas de aula. Foi uma obra que me fez refletir sobre como a ternura está na vida das pessoas. Eu vi que realmente damos valor às exigências diárias e esquecemos um pouco de lado o afeto. Concordo com todas as afirmações do autor, após fazer uma análise detalhada delas. As informações foram exemplificadas na obra. A partir disso, considero que sejam todas verdadeiras.
Como sempre, ler um livro agrega conhecimento novo para nossa vida. Então, considero que aprendi muito sobre a ternura. O autor utiliza algumas palavras difíceis, confesso que tive inúmeras vezes que recorrer ao dicionário. Creio que ele escreve de forma correta, pois foi bem compreendido por mim.
A forma como ele separou e deu continuidade ao assunto segue uma sequência lógica. Os capítulos abordavam temas que se completavam. Por fim, acho que a obra pode ser indicada para qualquer pessoa, pois todos nós precisamos agregar a ternura à nossa vida.


Leandro Luiz de Araújo

A obra

No trajeto de volta da universidade observei o movimento de carros e pedestres. Percebi que eram muitos os carros com apenas uma pessoa e pouco o numero de pedestres. Imediatamente lembrei-me do livro que, na sua essência, explicita os fatores que excluem a ternura da prática cotidiana. Um bom exemplo é esse fato, o individualismo que restringe os laços sociais e consequentemente prejudica o meio ambiente.
O livro “O direito à ternura”, de Luis Carlos Restrepo, é um denso retrato da realidade. Dividido em 20 capítulos que apresentam como a ternura desempenha importante papel em todos os campos da vida e como nós a omitimos.
O capítulo um “O público e o privado” apresenta que o direito à ternura é íntimo, pessoal, no sentido que existe em cada pessoa e é ela que deve exercê-lo. O autor ressalta que a lógica do público e privado exclui a lógica do afeto. E também que as políticas públicas interferem na vida pessoal.
“Falácias epistemológicas” narra quais são os temores ao falar da ternura; um exemplo é a suposta efeminação do homem terno. Mostra que o afeto não deve ser um ato exercido somente por alguns indivíduos e sim por todos. O autor enfatiza também que a escola afasta a ternura, ensinado que só se pode entender o outro “dissecado”, não compreendendo assim o ser vivo na sua singularidade.
Já o terceiro capítulo, “Analfabetismo afetivo”, destaca que a afetividade foi excluída do campo científico por ser considerada um estorvo. O afeto é colocado em segundo plano, apresentando, assim, o analfabetismo afetivo da cultura ocidental. A falta de ternura abrange todas as áreas da vida social (família, trabalho, política, economia, fé, entre outros).
No capítulo quarto, “Herdeiros de Alexandre”, o autor exibe o excesso de autonomia que a sociedade exige das pessoas. Compara o homem como um guerreiro que pensa apenas na sobrevivência, não possuindo afeto. Destacam neste capítulo as estórias de Alexandre e Indra; guerreiros de épocas distintas, mas que aprenderam a viver sem demonstrar afeto pelo próximo.
“As loucuras permitidas” expõem que taxamos de loucos as pessoas sensíveis e procuramos respostas na ciência para explicar essas loucuras. A sociedade rotula de “normais” as pessoas que atendem bem aos automatismos e que não possuem reflexos próprios, tornando-se apenas indivíduos controlados por outras pessoas. No capítulo também é exibido o resultado da paranoia: empresários e dependentes químicos que não possuem afeto e fazem tudo para alcançar o objetivo.
O sexto capítulo, “A cognição afetiva”, realça a latente separação entre cognição e afetividade. O conhecimento é limitado aos sentidos que mantêm certa distância corporal. No processo de aprendizagem, o tato e olfato são excluídos e os alunos utilizam somente a visão e a fala. O autor também destaca o aniquilamento da singularidade e das diferenças no processo de aprendizagem.
“Sentir a verdade” foca na ciência e na sensibilidade. A ciência é considerada o novo mito, uma opção ética e política, uma tentativa de mostrar como natural o que é uma criação cultural. Reforça que a sabedoria cotidiana depende dos sentidos e sentimentos. As diferenças radicais residem no plano sensorial.
O oitavo capítulo, “O cérebro social”, salienta que a cultura condiciona o nosso cérebro e o nosso conhecimento. Para desenvolver, o cérebro necessita de estímulos sensoriais e táteis que constroem o ambiente.
No capítulo nove, “Agarrar e acariciar”, as diferenças entre carinho e violência são destacadas. A importância do tato é fundamental, pois a forma como ele é utilizado modifica o contexto. Ao agarrar, impomos a nossa vontade. Podemos agarrar com gestos, olhares e verbos. O ato de agarrar é um ato violento. Acariciar é o oposto de agarrar. Devemos contar com o outro. É um ato compartilhado.
O décimo capítulo, “Retorno à Sabedoria”, estabelece que o saber é a supremacia da ternura. Relembra que a separação entre cognição e afeição fechou a multiplicidade do saber. Indica que a ternura é um meio de bloquear nosso ódio e que afeto e respeito resultam em liberdade.
“Entre amor e ódio” salienta o sonho do amor impossível e a diferença dele e ternura. Amor é ódio: odiamos somente o que amamos. O amor apresenta estórias felizes, mas também traz feridas. Ele é uma projeção que fazemos de outro que não existe, não é real. A ternura é o termo médio entre amor e ódio.
O capítulo doze, “Violência sem sangue”, se refere à violência psicológica, ao preconceito. Um tipo de violência que não aceita as diferenças e impede o surgimento e crescimento delas. É a violência que rejeita o diferente, julga sem conhecê-lo e critica sem saber como é a realidade e vivência do outro.
O décimo terceiro capítulo, “Casal: Tarefa impossível?”, realça que, apesar do crescimento da participação da mulher em todos os setores da sociedade, ainda existe uma relação de submissão. Narra também as dificuldades do casal moderno que deve gerir com sucesso o aumento dos bens materiais, criarem filhos perfeitos e ainda aparentar êxito em todas as ações, resumindo: um casal que faça um esforço sobre-humano para manter as aparências perante as exigências da sociedade.
“Estética na intimidade” retorna ao analfabetismo afetivo. Temos medo de perder o controle e, por isso, anulamos a singularidade do outro. Somos interdependentes nas relações afetivas, mas não aceitamos isso. Quando não nos sentimos realizados na área afetiva buscamos na acumulação monetária o exibicionismo do poder.
O décimo quinto capítulo, “Agindo a partir da fragilidade”, relata que a ternura é diferente de compaixão e complacência. Indica também que a busca pela ternura ocorre quando os cidadãos estão “desarmados” e não buscam a eliminação do adversário.
O capítulo dezesseis, “Ecoternura”, une o homem aos outros seres do ecossistema. Explica que não somos o centro hierárquico do ecossistema, pois ele é pluricêntrico e flexível. Destaca que a simbologia guerreira chegou ao fim e que sensibilidade é fundamental para sobrevivência. Basta ver como os animais e as plantas reagem previamente às mudanças.
No décimo sétimo capítulo, “Chaves teológicas”, a religião é emersa. O afeto é depender de outro, mesmo que este outro seja abstrato. Mostra que buscamos dinheiro para suprir as necessidades emocionais. Os sacrifícios sagrados foram substituídos por dinheiro.
“Caminho à gratuidade” explica que, ao ocultar a dependência do afeto e não aceitar a singularidade de cada um, nos fechamos na monotonia. A gratuidade da experiência é reivindicar a multiplicidade da experiência, encarando bem os imprevistos. O homem é um ser criativo e deve estar aberto às mais diversas vivências.
O décimo nono capítulo, “Em face do demoníaco”, ressalta que o demoníaco é aquilo que escapa das nossas previsões. É a múltipla visão do sagrado.
Para encerrar, o vigésimo capítulo, “O que pode o corpo”, explicita as capacidades do corpo quanto à ternura, a dependência, a gratuidade e a singularidade. O corpo e a nossa imagem corporal refletem nossas idéias, ideologias e pensamentos. O corpo é um lugar de passagem.

Apreciação

O assunto do livro foi abordado de forma dinâmica. O autor apresentou diversos casos do cotidiano para exemplificar e defender as ideias. O livro não exige conhecimento prévio para compreendê-lo. Tudo o que é citado pelo autor vem com exemplos e ele esclarece todas as estórias utilizadas. Exige apenas um pouco de disposição e interesse. O vocabulário é um pouco complexo, mas não impede a leitura.
O autor não faz conclusões, ele apresenta os fatos e faz uma síntese da realidade confrontando o que ocorre atualmente e como deveria ocorrer de fato, incentivando a reflexão no leitor. Cada capítulo estabelece uma ligação íntima com o leitor, pois os exemplos apresentados relacionam-se diretamente com a nossa realidade.
O autor não utiliza apenas uma corrente para defesa de suas ideias. Ele mescla o lado positivo de todas as correntes e procura ressaltar o que deve ser feito para alcançar a ternura. O livro utiliza desde testemunhos bíblicos, passagens históricas, correntes científicas, culturais e econômicas e fatos do cotidiano para explicitar o real significado da ternura.
A obra traz grande contribuição, pois traz de volta um tema que é totalmente esquecido e aniquilado pela atual sociedade capitalista e competitiva. As ideias são verdadeiras, pois relembram vários pontos positivos dos nossos passados ancestrais que hoje não são colocados em prática. A abordagem é de forma diferente, com inúmeros exemplos que tornam a leitura mais leve e traz conhecimentos novos aos leitores. As estórias contidas nos capítulos ressaltam a riqueza do homem e da nossa própria vida.
A narração não é muito objetiva, por se tratar de um tema amplo que necessita de diversas explicações. O autor é claro, preciso e coerente e busca situar o leitor diante das idéias através de exemplos. A linguagem é correta. Às vezes, será necessária uma consulta ao dicionário para compreender palavras mais complexas. O livro possui uma lógica linear e cada capítulo depende do outro. Ao ler o capítulo anterior, o leitor se situa do próximo assunto, compreendendo todo o contexto.
A obra é dirigida a todas as pessoas que queiram entender o que significa realmente o direito à ternura. Ela não é fechada para determinado grupo da sociedade, pois todos devem aprender a respeitar a singularidade de cada um.

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