quarta-feira, 10 de novembro de 2010

1ª Resenha destaque de 2010

RESENHA DO LIVRO "O DIREITO A TERNURA" DE LUIS CARLOS RESTREPO

A melhor resenha crítica ganha destaque aqui, e serve de exemplo para elaboração de outras.

Então vamos lá gente!! O empenho e a aprimoração é a fórmula mais óbvia para conseguir destaque, não só aqui, mas em qualquer outro lugar.

Leiam a resenha e se inspirem...



Ser singular para se tornar plural

Aírton De Souza

4° período de Jornalismo

O presente trabalho tem por objetivo resenhar criticamente o livro O Direito à Ternura de Luis Carlos Restrepo, Editora Vozes Ltda, 1994, 1ª edição, Petrópolis, RJ. Atende a uma solicitação avaliativa da disciplina Legislação e Ética em Jornalismo, ministrada pela professora Cíntia Cerqueira, 4° período de Jornalismo, UNIUBE. O autor é Aírton José de Souza, acadêmico do 4° período de Jornalismo da citada universidade.

Como todo trabalho desta natureza, em que se perpassa uma obra com o propósito de analisar suas características, além de seu escopo temático, faz-se necessário para que o trabalho flua de maneira, minimamente, satisfatória, uma integração ou ao menos uma cumplicidade entre quem analisa e a obra analisada. E isso se tornará perceptível ao longo desse texto. O estilo e o método de composição da obra será analisado em primeiro lugar, pois existe a crença de minha parte de que esses elementos influem substancialmente na compreensão do texto analisado.

Se por um lado encontramos termos técnicos, às vezes, de difícil compreensão para um leigo; em contrapartida, uma linguagem elegante a fluir com a segurança do autor permite que nos embrenhemos no texto, sigamos até suas entranhas e desvendemos qualquer significado que não aflore de início. Trata-se, portanto, de linguagem mesclada que, se confere cientificidade ao texto, também possibilita a sua mais plena compreensão. Em certos momentos, há uma proximidade notada com a linguagem coloquial, que não caberia num texto dessa natureza, mas que se presta a essa completude esperada pelo leitor. Assim, o autor é simples, claro, direto, sem ser pobre, piegas, desconhecedor do idioma e de noções básicas de estilo.

Quanto à parte estrutural, o que vem à cabeça, com a repetição temática intermitente, é o “Bolero” de Ravel. Num breve esclarecimento, o “Bolero” se constitui basicamente das mesmas notas que vão se repetindo com pequenas variações, pequenas mudanças de tom, às vezes, a suavidade; às vezes, o retumbar tonitruante dos tambores. E assim a peça musical se desenvolve, bem como o texto. O autor trabalha incessantemente uma repetição de uma ideia. Vai acrescentando, ao longo de cada capítulo, um elemento a mais de modo que pode se contradizer aparentemente, ou mesmo reforçar uma tese anterior. Em momento algum, em capítulo algum, deixa de defender a tese da ternura, do contato, da possibilidade de ser feliz com um toque. E o toque é tão somente o afastar-se de uma sociedade moderna que privilegia a visão, o estar distante, mas não sabe se comportar diante do possível contato com o outro. Assim, o professor não consegue atingir plenamente os anseios do educando, pois eles estão distantes. Há uma lousa, um livro, o conhecimento percebido pelo sentido do ver e não do tocar, do sentir. O médico com sua incapacidade de prescrever o medicamento correto por não se dar o direito de tocar seu paciente, mas apenas observar, ver erupções num corpo. Aqui, um xamã se torna mais eficaz ao se contrapor ao médico. O xamã sente a doença, vibra com as sensações do outro e, dessa forma, compreende o sentir do outro. O caminho para o outro passa necessariamente pelo que o outro sente. Sentimos pouco, pensamos muito. O sentir é para os poetas, para os artistas, dizem os homens de hoje. Para revolucionar a escola, há de se possibilitar o aprendizado pelo tato. O sentir não deve ser confinado aos poetas, embora tenham uma capacidade de fazer com que chegue a nós através do sensível. O contato com o outro pode se processar de formas diversas como tocar, roçar, acariciar e agarrar. Para o autor, o agarrar não pode se confundir com o dominar, tomar o outro como meu, fazer com que ele sinta o meu poder. As outras formas de apreender o outro se mostram mais delicadas, mesmo em equilíbrio. A nossa aproximação com o outro se faz de forma suave, de forma com que o outro sinta nossa presença como alguém que se encontra num mesmo patamar e não com um discurso corporal que possa favorecer um em detrimento do outro. No dizer de Sartre, que embasa a argumentação do autor, a carícia não é um simples roçar de epidermes, mas um compartilhamento, uma produção, uma feitura. Reforça-se aqui a tese de que a singularidade deve ser preservada, pois apenas na independência do que é singular reside a possível felicidade, realização, satisfação.

Quando se desrespeita a singularidade, ocupa lugar a violência, paradoxo inconteste da ternura. Deve-se aceitar o diferente, para que se preserve o singular. E quando não se preserva o singular, há uma crítica ao casamento como é praticada nos dias de hoje. Trata-se apenas de uma convenção, e meramente financeira. É como se houvesse uma junção de interesses em consumir, em ter, em possuir e não em ser terno, e não se respeitar a singularidade nem mesmo nos momentos íntimos que norteiam a convivência entre duas pessoas. Um tenta subjugar o outro, controlar o outro. O amor aqui é considerado apenas como a possibilidade de eu extrair do outro o que não possuo. O outro só serve a esse propósito. Vou ao outro não pelo outro, mas por mim, por aquilo que posso retirar do outro e acrescentar em mim.

Necessitamos um do outro, mas não podemos abrir mão da nossa singularidade, essa é a palavra chave. O dinheiro nos torna poderosos diante do outro, mas não é a garantia de troca de experiências íntimas, de carinho, de toques. Pelo contrário, pode ser o que ocasiona o inverso de tudo isso. Se possuo dinheiro, eu sou poderoso, e não tenho que me ocupar do outro. Eu me basto.

Não é possível discorrer sobre tudo isso e não se ater ao paradoxo da singularidade e integração. Cada ser é único, mas dentro de um imenso universo possível. Se isso, para uns, é sinal de enfraquecimento, porque não rejeita a dependência, ao contrário, aqui é o que possibilita a sobrevivência, pelo menos em plenitude. Estamos todos integrados num grande ecossistema, num processo de troca e dependência. O ser humano tem o outro como referencial. Esse referencial pode ser aquele que está próximo, ou mesmo um ser abstrato, nomeado de deus por alguns, em quem depositamos todas as nossas fraquezas, ambições, sonhos, medos. O outro torna-se, assim, a confirmação do que eu sou e nada mais. Agindo dessa forma, não há de se desdobrar demasiadamente a subjetividade. Há um limite para o que buscamos e que possivelmente poderemos obter. Tudo é por demais simples.

À guisa de uma conclusão, o autor alega que não podemos abrir mão do que está estabelecido. Buscamos atingir a graça que só é possível quando não abrimos mão da singularidade, mantemos os nossos traços mais íntimos, refugiamos nas entranhas mais profundas da nossa subjetividade, escondemo-nos na caverna da nossa linguagem primeira, mas sem perder de vista que o toque, a ternura é o que vai nos conduzir à vida plena, sem entraves, sem limitações para a possibilidade de ser mos felizes.